NOTA 98 - DO MUNDO FECHADO AO UNIVERSO INFINITO - de Alexandre Koyré

1 - A nova cosmologia substituiu o mundo geocêntrico dos Gregos e o mundo antropocêntrico da Idade Média pelo Universo
descentrado da astronomia moderna.
2 - Por volta do fim do século,a vitória de Newton era completa. Contudo,o universo-relógio construido pelo Divino Arquitecto
estava muito mais bem feito do que Newton tinha pensado. O relógio do mundo não exigia de forma alguma ser provido de novo,
ou reparado.
3 - A Revolução Científica dos sécs. XVI e XVII modificou os fundamentos e os próprios quadros do nosso pensamento,de que a
ciência moderna é ao mesmo tempo a raiz e o fruto.
 
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O livro " Do Mundo Fechado ao Universo Infinito " de Alexandre Koyré,aborda a história do pensamento filosófico e científico dos
sécs. XVI e XVII, define os esquemas estruturais da antiga e da nova concepção do mundo e descreve as mudanças produzidas
pela revolução do séc.XVII,a principal das quais terá sido a destruição do mundo concebido como um todo finito e bem ordenado
e a substituição deste por um universo indefenido e até mesmo infinito,suportado por leis que o regem em toda a parte. A estrada
que conduz do mundo fechado dos antigos ao mundo aberto dos modernos,foi percorrida em grande velocidade: cem anos,quando
muito,separam os ensinamentos de Copérnico(1543),dos de Descartes(1644) e quarenta anos até aos de Newton(1687). E as
principais etapas dessa estrada,aparecem muito claramente nas obras desses e de outros grandes pensadores,que o autor analiza,
transcrevendo ao longo do livro longos extratos de algumas das principais obras desses cientistas.
Vejamos alguns desses grandes homens da história da ciência,referidos por Alexandre Koyré:
a) - NICOLAU DE CUSA (1401-1464) - Cardeal alemão e filósofo do Renascimento. Foi o último grande filósofo do final da Idade
Média em declínio e rejeitou pela 1ª vez a concepção medieval do cosmos,e a quem,com frequência,é atribuido o mérito,ou o crime,
de ter afirmado a infinidade do universo,e que admite vida em todo o universo e onde um espírito novo,o espírito do Renascimento,
sopra nas suas obras. O seu mundo já não é o cosmos medieval,embora ainda não seja o universo infinito dos modernos.
b) - GIORDANO BRUNO (1548-1600) - Frade dominicano italiano e filósofo. Foi o primeiro a apresentar o esquema ou as linhas
gerais da cosmologia infinitista e deve ser encarado como o principal representante da concepção de um universo descentralizado,
infinito e infinitamente povoado. E - diz A. Koyré - embora Giordano Bruno não seja um filósofo muito bom e seja um mau físico,a
sua visão do universo infinito influenciou,na sua estrutura geral,a ciência e a filosofia modernas e,por isso,G. Bruno tem um lugar
de grande importância na história do pensamento humano.
c) - NICOLAU COPÉRNICO (1473-1543) - Astrónomo polaco. O resultado imediato da revolução coperniciana foi o de difundir
o cepticismo e a perturbação. Apesar do alargamento do mundo coperniciano,não deixa de ser um mundo finito " rodeado por
uma esfera ou por uma orbe material,a esfera das estrelas fixas - uma esfera que possui um centro ocupado pelo Sol". Basta ao
mérito de Copérnico ter conferido movimento á Terra e ter alargado o mundo até o tornar " immensum " : não podemos,com
razão,pedir-lhe mais.
d) - JOHANNES KEPLER (1571-1630) - Astrónomo alemão. Kepler defendeu que o mundo é finito,tendo rejeitado a concepção
da infinidade do universo e,embora tenha escrito o livro "A Estrela Nova" antes da descoberta e da utilização do telescópio,o
que é certo é que manteve a sua opinião após essa descoberta por Galileu. Assim,KEPLER,grande pensador autenticamente revolucionário,não foi menos tributário da tradição. No seu modo de conceber o ser e o movimento - não a ciência - Kepler,em
última análise,mantém-se um aristotélico.
e) - GALILEU GALILEI - (1564-1642) - Astrónomo italiano. Com a invenção e a utilização do telescópio por GALILEU, não
somente a astronomia mas também a ciência enquanto tal,entraram numa nova fase da sua evolução,a fase que poderíamos
qualificar de instrumental. No debate sobre a finidade ou a infinidade do universo " o grande florentino,ao qual a ciência moderna
deve mais do que a quem quer que seja ",não tomou partido. Aliás - diz Galileu - será sempre impossível saber,para a ciência
humana,se o mundo é finito ou,pelo contrário,infinito.
f) - RENÉ DESCARTES - (1596-1650) - Filósofo,físico e matemático francês. Foi Descartes (e não Bruno ou Galileu) quem 
formulou clara e distintamente os princípios da ciência nova e da nova cosmologia matemática. Para Descartes o espaço físico
está em toda a parte ocupadp por "éter" e "o espaço não é uma entidade distinta da "matéria" que o preencheria: matéria e
espaço são coisas idênticas e só por abstração podem ser distinguidas. O mundo cartesiano é "indefenido". Descartes destina
o qualificativo de "infinito" apenas a Deus. Deus é "infinito". O mundo é somente "indefenido". Mas,para Henry More, a doutrina
cartesiana conduz ao materialismo e,ao excluir Deus do mundo,ao ateismo e os filósofos que promoveram o mundo finito,tais
como Platão,Aristóteles e os Estóicos,admitem a existência de espaço no exterior ou para além do mundo. Mas,Henry More,
vai mais longe: separa matéria e espaço e eleva este último á dignidade de atributo divino e de orgão no qual e por meio do qual
Deus cria e conserva o seu universo,um mundo finito,tanto limitado no espaço como no tempo.
g) - ISAAC NEWTON - (1642-1727) - Cientista inglês,físico,matemático,astrónomo,filósofo,etc,autor da "Lei da Gravitação
Universal" e das "três leis de Newton" que fundamentam a mecãnica clássica. Homem prudente e discreto que dizia que " a
gravidade deve ser causada por um agente que age constantemente segundo certas leis;mas que esse agente seja material
ou imaterial,deixo-o á consideração dos meus leitores" e defendia a existência de um mundo infinitamente extenso e povoado,
mergulhado num espaço infinito e vazio,governado pela sabedoria e movido pela potência de um Deus Todo-Poderoso e
Omnipresente. Era este o universo do mui herético professor de matemáticas,Isaac Newton,membro da Real Sociedade e do
Trinity College.
h) - G. W. LEIBNIZ - (1646-1717) - Filósofo e cientista alemão,que criticou as ideias de Newton. Para Leibniz,Deus é o 
"Deus do Sabat" - o que concluiu a sua obra e acha que ela é boa,que representa o melhor dos mundos possíveis e que,
por esta razão,já não tem de exercer a sua acção sobre este mundo,ou nele,mas pode contentar-se com a sua conservação
e manutenção no ser. Para Newton,Deus é o "Deus da Semana" que elabora o mundo como entende e continua a agir sobre
ele como o Deus da Bíblia o havia feito ao longo dos seis primeiros dias da criação. LEIBNIZ nega a limitação do universo ,e
diz que o espaço é função dos corpos e que onde não há corpos,também não há espaço;e que o espaço  (e o tempo) são
atributos eternos e incriados de Deus.
O mundo de Newton - um relógio cujo movimento se esgota - requer que a sua rotação energética seja constantemente
renovada por Deus ; O mundo de Leibniz - graças á sua perfeição,exclui toda a intervenção de Deus no seu movimento perpétuo.
Por isso,o Deus potente e actuante de Newton,que "governaria" efectivamente o universo segundo a sua livre vontade e a sua
decisão,tornou-se sucessivamente,ao longo de uma rápida evolução,uma força conservadora,uma "intelligencia extra-mundana",
um "Deus perguiçoso".
E - conclui Alexandre Koyré - o Universo infinito da nova cosmologia,infinito na duração e na extenção,no qual a matéria eterna,de 
acordo com leis eternas e necessárias,se move sem fim e sem objectivo no espaço eterno,havia herdado todos os atributos
ontológicos da divindade. Mas somente quanto a estes : quanto aos outros,Deus ,ao partir do mundo, levou-os com Ele.