NOTA 97 - O RELATIVISMO - de Raymond Boudon

1 - O RELATIVISMO afirma que todas as culturas se equivalem e onde o indivíduo tende a impôr a ideia de que tudo é opinião
e de que toda a opinião merece respeito. Não haveria verdades incontestáveis senão no universo da técnica. É um ponto de vista
sobre o conhecimento,as normas e os valores, e as suas variantes principais são o relativismo cognitivo,o relativismo estético e o
relativismo normativo.
2 - A quarentena das noções que exprimem um modelo racional do ser humano é uma das causas essenciais da actual ditadura
do "mau" relativismo.
3 - Existe uma "natureza humana" que transcende as culturas.
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O livro O RELATIVISMO do filósofo e sociólogo francês Raymond Boudon faz uma análise desta teoria sociológica ao longo dos tempos
e define os contornos fundamentais que balizam o relativismo e quais são alguns dos seus principais mentores.
O Relativismo é uma doutrina que prega que algo é relativo,e é contrário de uma ideia absoluta,categórica. É uma visão oposta ao
etnocentrismo,que leva em consideração apenas um ponto de vista em detrimento dos demais. Por isso,o relativismo baseia-se na
relatividade do conhecimento e repudia qualquer verdade ou valor absoluto.
No diálogo platónico "Teeteto", atribui-se a Protágoras uma concepção relativista do conhecimento,por haver afirmado que "o homem
é a medida de todas as coisas". Contudo,Sócrates levanta uma série de objecções contra essa teoria radical de relativismo subjectivista...
(cfr.wikipedia/relativismo)
Raymond Boudon,depois de balizar em traços gerais o relativismo - que afirma que todas as culturas se equivalem e onde o individualismo
tende a impôr a ideia de que tudo é opinião e de que toda a opinião merece respeito - diz que o relativismo existe desde a antiguidade
(Teeteto,Platão,152a) mas apenas se tornou dominante no nosso tempo. E destaca 3 variantes : 1 - relativismo cognitivo ; 2 - relativismo
estético ; 3 - relativismo normativo.
No "relativismo normativo" salienta o contributo de : Montaigne , que defendeu que as regras,as normas e os valores sociais são fundadas
em convenções culturais arbitrárias que se impõem ao indivíduo no curso da socialização,embora admita a existência de "leis naturais" que,
contudo,estão negligenciadas pelos seus contemporâneos ; David Hume,para quem,se os factos,eles mesmos,não impõem qualquer norma,
as normas são convencionais. ; Max Weber ,que dizia que os valores e as normas dependem da arbitrariedade cultural e das relações de
força e as sociedades são animadas por conflitos endémicos insolúveis entre sistemas de valores concorrentes.
Ao contrário de Montaigne,Carl Schmidt,Norberto Bobbio e Hans Kelsen,negam a existência de um direito natural.
O "relativismo normativo" põe todas as sociedades em pé de igualdade,e com isso afirma a sua dignidade,mas a sua fragilidade é evidente
porque " uma crença colectiva não fundamentada não consegue manter-se a longo prazo".
Em relação ao RELATIVISMO COGNITIVO , destaque para Thomas Kuhn -"a história das ciências é menos linear e racional do que dizem 
os manuais de história e de filosofia das ciências" e Karl Popper - "não há teorias que possam ser qualificadas como verdadeiras,mas
apenas teorias prováveis:aquelas que,no fim de todos os testes a que conseguiram submetê-las,não foram refutadas pela realidade".
Depois de abordar a teoria construtivista da ciência,Raymond Boudon fala em 3 tipos de crenças : tipo I, tipo II, tipo III e cita Max Scheler
que terá dito que " a partir do momento em que temos de considerar um comportamento como desprovido de razões,franqueamos a
fronteira que separa o humano do inumano " ,e trás á colação Tocqueville e a razão. De facto,na França do tempo de Tocqueville
" a tradição aparece a muitos como a fonte de todos os males " e " o espectáculo de tantos privilégios abusivos ou ridículos,cujo peso
se sentia cada vez mais e cuja causa se percebia cada vez menos,empurou,ou antes,precipitou simultaneamente o espírito de cada
um deles em direcção á ideia da igualdade natural das condições."
Mais á frente aborda a questão da escravtura : " Os Gregos e os Romanos aceitavam a escravatura porque não imaginavam que uma
sociedade pudesse funcionar sem escravos ". E acrescenta : nós estamos na mesma posição em relação á pobreza. Estamos convencidos
de que uma sociedade justa deve procurar erradicá-la.Mas,como não conseguimos imaginar os meios que permitiriam alcançar esse
objectivo,aceitamos que uma sociedade comporte largas bolsas de pobreza. Em contrapartida,não hesitamos em condenar a prática
da escravatura.
Diz que " existe uma NATUREZA HUMANA que transcende as culturas ", embora esta noção tenha má reputação junto do culturalismo
reinante nas ciências humanas contemporâneas,que consideram que a maior parte dos comportamentos humanos são de origem
cultural. E cita Durkheim, quando aborda as penas criminais : " quando examinamos a evolução das sanções penais nas sociedades
ocidentais,observamos uma suavização tendencial que atravessa os séculos ".
AS REGRAS MORAIS, segundo Fredrich Hayek,terão tido origem na prática da troca: " A formação de regras universais de conduta
não começou na comunidade organizada da tribo,mas antes com o primeiro caso de troca directa " e volta a citar Émile Durkheim
para quem " o individualismo e a liberdade de pensamento não datam de hoje,nem de 1789,nem da reforma,nem da escolástica,
nem do fim do politeismo greco-romano ou das teocracias orientais. São um fenómeno com início em lugar nenhum,que se desenvolveu
sem cessar ao longo da história."  Por outro lado, a DEMOCRACIA e as suas instituições têm sido selecionadas porque " parece
incontestável que tiveram por efeito canalizar e suavizar os conflitos sociais e políticos,reduzir a violência pública,aumentar as
possibilidades de o cidadão gozar de paz civil,facilitar a produção de riqueza e aumentar o nível de vida."
Fala de VOLTAIRE como o "combatente da justiça e apóstolo da tolerância" mas que não via qualquer inconveniente em tirar proveito
do tráfico de negros, e compara o ISLÃO com o CRISTIANISMO : ao contrário do cristianismo, o islão quis legislar em matéria política
e científica. "Maomé fez descer do céu,e pôs no Alcorão,não só as doutrinas religiosas mas também as máximas políticas,as leis
civis e criminais,as teorias científicas" e isso não deve facilitar o florescimento da liberdade de expressão,do espírito crítico e da
democracia.
O bom senso e o senso comum tendem a impôr-se a longo prazo,pelo menos nas sociedades democráticas, e as classes sociais
das sociedades modernas são : 1 - Os ricos, que dispõem de um excedente significativo eventualmente convertível em,principalmente,
poder político ou social ; 2 - A classe média, que dispõe de um excedente limitado,insuficiente para ser convertido em poder político
ou social ; 3 - Os pobres.
A falta de bom senso na praxis política e social,ou seja,a quarentena de um modelo racional do ser humano,"é provavelmente uma das
principais causas intelectuais da crise do político e da perda de confiança por vezes observada no modelo da democracia representativa
e uma das causas essenciais da actual ditadura do "mau" relativismo." 
E - diz Raymond Boudon - há um dado novo : " as novas tecnologias da comunicação ameaçam cada vez mais fragilizar as redes
que suportam os bem-pensantes de todos os tipos." 
E conclui : " O "bom" relativismo permite compreender que,porque habitavam contextos sociais e mentais diferentes,Séneca,
Montesquieu e Tocqueville tenham tido opiniões diferentes sobre a escravatura...; O "mau" relativismo quer que registemos
a diversidade das normas e das situações produzidas pelo ser humano,sem procurar comprendê-las."
........................................................................... O RELATIVISMO de Raymond Boudon - a chamada de atenção para a
necessidade de separar o trigo do joio. Nos comportamentos humanos - individuais,sociais,políticos,etc. - nem todas as
opções são racionalmente justificáveis. É necessário encontrar um modelo racional que tenha em conta as características
naturais e intelectuais do ser humano.