NOTA 84 - O MURO DE BERLIM - de Frederick Taylor

O MURO DE BERLIM era uma barreira física,construida pela República Democrática Alemã (Alemanha Oriental) durante a 
Guerra Fria,que circundava toda a Berlim Ocidental,separando-a da Alemanha Oriental,incluindo Berlim Oriental. Este muro,
além de dividir a cidade de Berlim ao meio,simbolizava a divisão do mundo em dois blocos ou partes : República Federal da
Alemanha (RFA),que era constituida pelos países capitalistas encabeçados pelos Estados Unidos ; e República Democrática
Alemã (RDA),constituida pelos países socialistas simpatizantes do regime soviético. Construido na madrugada de 13 de agosto
de 1961,dele faziam parte 66,5 km de gradeamento metálico,302 torres de observação,127 redes metálicas eletrificadas com
arame e 225 pistas de corrida para ferozes cães de guarda. Este muro era patrulhado por militares da Alemanha Oriental com
ordem de atirar para matar os que tentavam escapar,o que provocou a morte a 80 pessoas identificadas,112 ficaram feridas e
milhares aprisionadas nas diversas tentativas.
(wikipedia.org./muro de berlim)
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Tive a oportunidade de visitar parte do que resta do Muro de Berlim,quando em abril de 2008 me desloquei a Berlim com o
objectivo principal e correr a Meia-Maratona de Berlim. Conclui a 28ª Berliner Halbmarathon no tempo de 2 h 6m 45 s,tendo ficado
classificado em 9473 entre os cerca de 12.500 participantes que concluiram a prova. E,é claro que visitei Berlim e alguns dos
seus pontos turísticos mais importantes,tais como a zona do Muro de Berlim junto a Checkpoint Charlie,o Reichstag,a Brandenburger
Tor,Potsdamer Platz,etc.
BERLIM é hoje uma grandiosa e moderna cidade. Mas nem sempre foi assim. Como o autor deste livro descreve,a cidade conheceu
a fome e a miséria durante a 1ª metade do século XX,como consequência da destruição provocada pelas 1ª e 2ª Guerras Mundiais.
Mas recuperou e é hoje a magnífica capital da Alemanha.
Berlim conheceu uma Muralha ,antes de ter conhecido o Muro. Tinha outro objectivo a Muralha da Berlim mandada construir por
Frederico Guilherme,em 1730. Pretendia defender Berlim contra quaisquer inimigos,mas também era uma "muralha aduaneira"
que permitia cobrar portagem aos viajantes,ás cargas comerciais e a quaisquer bens de consumo que entrassem e saíssem da
cidade. A última reparação da Muralha foi efectuada em 1840 e ao longo dos 20 anos seguintes,toda a estrutura,de 17 km de
comprimento,seria destruida,o que iria permitir que Berlim podia alargar-se para além dos seus limites. Assim,durante cerca de
100 anos,a cidade não teve qualquer Muralha ou Muro interno.
Contudo,os líderes da RDA,com Erich Honecker á cabeça,tiveram um "ensaio geral" para a construção do Muro de Berlim,na
urbanização "Gueto dos Deuses",em Wandlitz,em 1960. Aí,construiram um Muro,com 8 km de comprimento e 2 metros de altura,
dissimulado por árvores e arbustos,com guardas em torres de vigia. Como diz o autor," tendo-se isolado tão cuidadosamente
a si próprios da ameaça de um mundo exterior hostil,os homens da liderança da Alemanha de Leste, iam agora tratar de fazer o
mesmo aos seus 17 milhões de concidadãos."
Fredrick Taylor começa por contar a história de Berlim,desde o início do séc. XIV,quando duas grandes aldeias - Berlim e Colln - 
divididas pelo rio Spree,se fundiram em 1307. Depois avança: os senhores de Brandeburgo,em 1486; a fome de 1631-32; a
fundação do exército prussiano; Berlim,cidade de imigrantes "e continuaria a sê-lo até ao século XXI"; Napoleão Bonaparte em
Berlim; a unificação formal da Alemanha em 1870; Berlim nas vésperas da 1ª Guerra Mundial,como 2ª maior cidade da Europa;
a fundação do Partido Social-Democrata (SPD) em 1875; a catástrofe da Guerra de 1914-18; a prisão de Hitler por 2 anos ; a
vitória dos nazis em 1933; Berlim após a 2ª Grande Guerra; a divisão de Berlim; o bloqueio soviético em Berlim,em 1948; a ponte
aérea de 1949; o nascimento da República Federal da Alemanha,em 23/5/1949; e da República Democrática Alemã,em 7/10/1949;
o começo da Guerra Fria com o bloqueio a Berlim,em 1948; a proposta para a unificação alemã feita por Estaline,em Março de
1952 e que Konrad Adenauer recusou; a morte de Estaline; Erich Honecker - " o criador do Muro de Berlim"; Willy Brandt ; a
população que foge da RDA e Berlim como " uma espinha na garganta" de Kruchtchev.
E chegamos a 1961. Era necessário reduzir o êxodo da população da RDA para Berlim Ocidental. A cimeira entre Kennedy e
Kruchtchev,no início de junho de 1961,em Viena,nada trouxe de novo,mas kruchtchev saiu confiante. Foi o que quis ver o
leader da RDA Ulbricht. Contudo,Kennedy,na TV,diz: "se tentarem restringir o acesso a Berlim Ocidental  ou tomar os sectores
ocidentais,nós lutaremos."  A 15 de junho Ulbricht afirma numa conferência de imprensa:"ninguém tem a intenção de construir
um muro". Mas o sim de Moscovo acaba por chegar,e a preparação começa liderada por E. Honecker.
Em privado,o Presidente americano Kennedy dizia : " Kruchtchev está a perder a Alemanha de Leste,tem de fazer alguma coisa
para estancar o fluxo de refugiados - talvez um muro. E nós não o podemos evitar. Posso manter a aliança ocidental unida para
defender Berlim Ocidental,mas não posso fazer nada para manter Berlim Leste aberta". Aliás,o congressista americano Fullbright,
ia ainda mais longe;não entendia porque razão os alemães de Leste não tinham fechado a sua fronteira,o que tinham " todo o
direito de fazer".
E fecharam !  À  1 da manhã de 13/8/1961 começou a operação de encerramento da fronteira propriamente dita e ás 6 da manhã
o encerramento provisório da fronteira entre Berlim Leste e Berlim Ocidental estava completo. A "Operação Rosa" estava em marcha.
Quando os aliados perceberam que a intenção de Moscovo não era invadir Berlim Ocidental,mas apenas fechar a fronteira com Berlim
Leste,decidiram que " um muro é bastante melhor do que uma guerra". A 18/8/1961 os alemães de Leste começaram calmamente
a construir uma barreira sólida de tijolos de betão,entre a Porta de Brandeburgo e a  Potzdamer Platz,com o objectivo de reforçar
a divisão e substituir o arame farpado.
Em 27/10/1961, a "crise dos tanques" junto ao famoso posto fronteiriço norte-americano  "Checkpoint Charlie", quase conduziu á
guerra,mas a situação acabou por ser ultrapassada. Kruchtchev dizia : " não temos medo,mas não queremos a guerra".
Apesar do muro,centenas de pessoas conseguiram fugir,mas muitas mais centenas foram presas por o tentarem fazer. Formaram-se
organizações de ajuda ás fugas e a forma mais popular de fazer passar pessoas para o Ocidente era fornecer-lhes documentos
falsos,embora também fosse utilizada a via dos esgotos e túneis e a "volta escandinava".
Mas,em poucos anos,a situação fronteiriça intrinsecamente anormal,tinha-se transformado,na realidade,numa situação "normal",
prova de que - diz o autor - as pessoas,com o tempo,acabam por se habituar a quase tudo.
Em 26/6/1963 dá-se a famosa visita do Presidente Kennedy a Berlim,onde ele disse,no final do seu discurso : " todos os homens livres,
onde quer que estejam,são cidadãos de Berlim. E,por isso,eu,enquanto homem livre,tenho orgulho nestas palavras : " Ich bin ein Berliner ".
Apesar de todos os problemas,durante o final da década de 60 e na de 70, Berlim Ocidental era um sítio bastante agradável para se viver.
Houve quatro grandes reorganizações do Muro. Foi alargado e melhorado na década de 80,embora por volta de meados da de 70
se tivesse tornado praticamente inexpugnável.
O reconhecimento " de facto " da Alemanha de Leste por parte da Alemanha Ocidental,através do "Tratado Básico" assinado antes do
Natal de 1972,permitiu aumentar o número de visitantes da Alemanha Ocidental á RDA. " Tanto os alemães ocidentais como os
berlinenses ocidentais podiam agora viajar á vontade,como simples turistas ou para visitar familiares e amigos há muito encerrados
atrás da fronteira."
A superioridade económica e o poder militar do Ocidente,por um lado,e a liberalização progressiva que foi sendo silenciosamente
imposta ao Leste pela opinião pública mundial e pela alteração dos desejos e aspirações das pessoas comuns dos países comunistas
foi,a pouco e pouco,conduzindo ao final da "guerra fria",apesar dos mísseis nucleares russos SS-20 que podiam atingir alvos tão
distantes como Portugal.
O Acordo de Helsínquia,de agosto de 1975,ia minando as contradições do Bloco de Leste. Numa viagem que fez á Alemanha
Ocidental,em setembro de 1987,o leader da RDA Erich Honecker,acabou por reconhecer que " as fronteiras não são como deveriam
ser " e podia ser que algum dia, " já não nos dividam,mas nos unam ". E  Ronald Reagan,quando em junho de 1987,participou
nas comemorações dos 750 anos de Berlim,tinha dito para Gorbatchev em frente á Porta de Brandeburgo : " Sr. Secretário-Geral
Gorbatchev !  se procura a paz,se procura a prosperidade para a União Soviética e a Europa de Leste,se procura a liberalização,
venha até esta porta, Sr. Gorbatchev, e abra-a. Mande abaixo este muro, Sr. Gorbatchev."
A 2/5/1989,o governo reformista húngaro começou a desmantelar a sua fronteira fortificada com a Áustria. " E que Berlim seja
a seguir ! " - proclama George Bush,pai,que sucedera a Ronald Reagan como Presidente dos USA ; por outro lado,Gorbatchev,
ao repudiar publicamente a "Doutrina Brejnev",proclama que os países podiam agora fazer as coisas " á sua maneira" o que
ajudou a aumentar o êxodo dos alemães de leste - em apenas 3 dias,22 mil atravessaram a fronteira com a Hungria.
Entretanto,as relações entre Gorbatchev e Honecker deterioraram-se bastante. " Quando nos deixamos ficar para trás, a vida
castiga-nos imediatamente ",disse ele,numa referência óbvia a Honecker e aos seus apoiantes. A queda de Honecker aconteceu
em meados de outubro através de uma simples votação no Politburo,tendo sido substituido por Egon Krenz,que iria governar
durante 46 dias.
E o muro veio abaixo !   A  9/11/1969 a RDA decidiu alterar as leis relativas á saída de cidadãos e ... não mais conseguiu controlar
a situação das pessoas junto á fronteira. " A RDA está a abrir as fronteiras " - espalha-se como um relâmpago. De imediato,
milhares de pessoas começaram a passar pelo posto fronteiriço,simplesmente a passo ou,em muitos casos,a correr em direção
a Berlim Ocidental. A sensação de correr livremente sobre a ponte,de atravessar uma fronteira,onde essa acção,apenas alguns
dias ou mesmo horas antes,teria muito provavelmente significado a morte,fez surgir uma indescritível onda de exaltação e alegria.
Entre a 1 e as 2 da manhã de 10 de novembro,torrentes humanas vindas do Leste e do Ocidente abrem caminho através do Muro,
na Porta de Brandeburgo. Há quem ainda esteja de pijama,ignorando o frio de novembro. (...)  As pessoas sobem para cima do
Muro,para pular,dançar e gritar a plenos pulmões,numa sensação de escape,libertação e prazer,que foi seguida pela maior e
mais louca festa de rua que o mundo já viu.
A queda do Muro de Berlim,á semelhança da sua construção,deu-se numa única noite. Da mesma forma que,em 13/8/1961,uma
cidade e um povo tinham acordado divididos,na manhã de 10/11/1989, essa divisão deixou de existir.
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............................................................................... " O Muro de Berlim " , de Frederick Taylor é um trabalho meticuloso que
preserva uma página importante da História, que convém não esquecer.