NOTA 75 - JÁ NÃO TEREI TEMPO - MEMÓRIAS - de Hubert Reeves
1 - Se as minhas palavras forem uma ajuda para os que tentam construir a sua vida e o seu futuro,em especial para os
jovens que pensam orientar-se para a vida científica,o meu objectivo será alcançado.
2 - A meu ver,a ciência não pode nem infirmar nem confirmar a existência de Deus.
3 - O modelo do Big-Bang é uma verdade absoluta ou somente o produto da imaginação fértil dos investigadores ?
A resposta é : Nem uma coisa nem outra. Há toda uma gama de possibilidades intermédias.
4 - Uma teoria nunca é definitiva: diz respeito a uma determinada situação e a um determinado momento. Os novos
resultados podem pô-la em causa e ela poderá até retroceder seriamente na escala das certezas.
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Um livro de memórias serve sempre para dizer:aqui estou eu e aqui está o que eu fiz durante a minha vida.É o desfilar de factos,
acontecimentos e pessoas que,desde a infância,marcaram a personalidade e a praxis do autor.
"Já Não Terei Tempo - Memórias" é o livro de memórias do Prof. HUBERT REEVES,ilustre e consagrado cientista,astrofísico
de reputação mundial e autor de inúmeras obras de divulgação científica,muitas delas publicadas em Portugal,como,por exemplo,
"Um Pouco Mais de Azul","A Hora do Deslumbramento","Últimas Notícias do Cosmos","Poeiras de Estrelas","O Primeiro Segundo",
"A Agonia da Terra","Crónica dos Átomos e das Galáxias",entre outros.
HUBERT REEVES nasceu em 13/7/1932,em Montréal,Québec,Canadá. Filho de uma família católica e praticante,cresceu no
ambiente do catolicismo e puritanismo da sociedade vigente ao tempo no Québec,que ele compara com a sociedade portuguesa
e espanhola,antes da instauração das democracias em Portugal e Espanha. Entre os 8 e os 18 anos frequentou o colégio de padres
jesuítas - Colégio Brébeuf. A mãe dizia a ele e aos irmãos : " será a vossa herança;não teremos grande coisa a deixar-vos,mas terão
ao menos isso : a instrução ". E,diz Hubert Reeves,"para o modesto salário do meu pai,representante comercial,o colégio era uma pesada
carga financeira. Não me apercebia então do privilégio que me era concedido".
Hubert Reeves sempre foi uma pessoa cordata e obediente.Gostava de agradar,gostava de aprender,dava importância ás normas
sociais e sempre procurou estar do lado bom e correcto da vida. A influência do catolicismo manter-se-ia até ao tempo da frequência
das Universidades,onde mergulhou mais a fundo no conhecimento científico em geral e,em particular,na astrofísica. E então,certas
ideias religiosas "não sobreviveram á prova do tempo",o que fez com que "as certezas deram lugar ás questões".
Do tempo do Colégio dos Jesuítas,guarda boas recordações dos professores que,eram verdadeiros educadores,que consideravam o
seu ofício uma vocação,que realizavam de forma dedicada. E diz," resta-me sobretudo o reconhecimento pelo que me trouxeram
alguns desses homens notáveis,amantes da cultura e humanistas".
Hubert Reeves é considerado por alguns como "o Carl Sagan da Europa" (rtp.pt/blogs/hubert reeves) e o gosto pela astronomia também
lhe veio dos tempos do Colégio Brébeuf,quando aí viu o documentário "Flammes du Soleil",com as erupções solares observadas
pelo telescópio de Bernard Lyot. Diz Hubert Reeves :" este documentário impressionou-me de tal maneira que reforçou a minha
decisão de me tornar astrónomo".
Da música clássica,sempre foi um apaixonado,assim como da natureza. Gostos que vieram da família: " a minha família dedicava á
natureza uma verdadeira veneração" e "a música estava presente pelas sonatas de Beethoven - Clair de Lune e Apassionata - que a
minha mãe tocava no piano e pelas operetas de Johann Strauss e de Franz Lehár,que o meu pai apreciava. " E conclui :" Pôr o
fonógrafo da família sobre a mesa do jardim,enquanto a obscuridade se instalava sobre o lago e o vento fazia murmurar as grandes
folhas dos choupos,sentar-nos na relva ainda morna do calor do dia e,conscientes das nossas presenças mútuas,perturbados mas
silenciosos,ouvir o "Magnificat" de Bach,a "Flauta Mágica" de Mozart", ou "A Sagração da Primavera" de Stravinski,eram os grandes
momentos emotivos e culturais dos nossos verões. Conheci raramente prazeres mais intensos."
Depois fala no estágio no Observatório de Agassiz,do Harvard College,em Cambridge,Massachusetts,e dos empregos de verão
"para ganhar alguns trocos",e volta a abordar o conflito interior que a Astronomia ia provocando :" perante os defensores do
"reducionismo",sentia impaciência e repulsa,mas também uma certa atração e,no fundo,o temor de que tivessem razão." E fala
das Universidades onde estudou : 1 - Universidade de Montréal,onde "os meus primeiros meses foram difíceis" e onde obteve
o Bacharelato em Física; 2 - Universidade McGill,também em Montréal,onde obteve a Licenciatura; 3 - Universidade de Cornell,nos
USA,onde prepara o Doutoramento em Física e onde passou,durante algum tempo,por dificuldades financeiras. Mas,diz Hubert
Reeves," na Universidade de Cornell o ambiente era exaltante.Sentia-me como imerso num banho de ciência e de criatividade....
Contudo,não deixa de se referir ao meio científico,nestes termos:" ignorava que nenhum meio,mesmo este,está isento de mesquinhez,
de invejas,de uma dura competição e dos golpes baixos que daí podem resultar". Um exemplo de um golpe baixo ? "roubaram-lhe"
a tese de doutoramento!
Descreve a travessia do Canadá de comboio - " pareceu-me logo uma viagem maravilhosa" - e uma longa viagem que fez á URSS,
e não deixa de falar de alguns cientistas mais em particular : Ed Salpeter,o seu orientador de tese; George Gamow "um dos mais
brilhantes génios da nossa época"; Richard Feynmam "um mestre em padagogia"; George Lemâitre, "o pai do Big Bang"; Albert
Einstein que "nunca aceitará os fundamentos da física quântica", entre outros. E fala da Europa : " o meu objectivo tornou-se claro:
partir,ir para a Europa,viver aí,explorar as suas riquezas.Este projecto dava-me asas."
No livro existe uma foto - a última - tirada em junho de 1998 nos Claustros do Mosteiro de Santa Cruz,em Coimbra,durante o encontro
"Fronteiras da Ciência",onde aparece Hubert Reeves,acompanhado por outros cientistas,alguns portugueses,como Carlos Fiolhais e
João Caraça,entre outros.
E que mais diz Hubert Reeves nas suas "memórias" ? Fala da avó Charlotte,contadora de histórias: " Quando me perguntam de
onde me vem o gosto por contar histórias sobre o universo,as estrelas,os átomos,ou de lançar adivinhas,é nestes instantes mágicos
que penso". Fala dos livros que o pai levava para casa: " Um dia o meu pai chegou a casa com uma pilha de livros grandes... Alguns
alimentaram os meus sonhos durante muitos anos". E fala de alguns livros que escreveu: "Evolução Estelar e Nucleossíntese";"Últimas
Notícias do Cosmos" e "O Primeiro Segundo", com os quais sempre pretendeu " ensinar alguma coisa a alguém". Mas,nem sempre
é fácil publicar livros: "Um Pouco Mais de Azul" ,foi recusado por mais de 30 editores antes de ver a luz do dia, e alguns livros são
publicados tendo em conta críticas feitas a livros anteriores,como foi o caso de "A Hora do Deslumbramento".
Refere-se ao seu empenho na defesa do ambiente,através da presidência,que assumiu,da ROC - Liga para a Preservação da
Fauna Selvagem e a Defesa dos Não-Caçadores". Diz Hubert Reeves: " ter a impressão de trabalhar para uma causa nobre,dá um
sentido novo á minha vida e tenho a agredecer isso aos meus colaboradores".
Também se refere á psicanálise:" Li muito Sigmund Freud ,mas também Jung e Winnicott",cujas leituras comentava com o amigo
músico Gilles Tremblay e com o colega físico Serge Lapointe. " A descoberta do inconsciente foi para mim uma experiência fulgurante..."
Com um certo orgulho,refere a firmeza com que sempre recusou cargos incompatíveis com " o tempo necessário para a minha
insaciável sede de busca de conhecimento".
E dos tempos das brincadeiras ? Aí, " ir ás ilhas " era para mim a promessa de um encantamento...Como os navegadores dos
séculos passados,insistíamos em manter secreta a rota das "nossas" ilhas.
Uma referência final para a página do facebook de Hubert Reeves e para o "site" (www.hubertreeves.info). Dois sítios a visitar com agrado.
.............................................................................. HUBERT REEVES é daquelas pessoas que nasceram para apreciar a
beleza da vida e de tudo aquilo que ela proporciona. Apreciar e,depois, contar como vê as coisas neste pequeno
planeta " Um Pouco Mais Azul " que os outros.