NOTA 71 - COMO VEJO a CIÊNCIA,a RELIGIÃO e o MUNDO - de Albert Einstein
1 - Sou uma pessoa independente,franca,livre de preconceitos nacionais e de classe e que nada mais deseja do que o bem
da humanidade e a obtenção de condições de vida tão armoniosas quanto possível. Os ideais que sempre me iluminaram
foram a Bondade,a Beleza e a Verdade. O meu ideal político é a Democracia.
2 - No actual estado de desenvolvimento técnico,só uma organização supranacional dotada de um poder executivo suficientemente
forte nos pode proteger. Devemos criar um governo mundial capaz de resolver por via judicial os conflitos entre nações. Esse
governo tem que se basear numa constituição bem definida,apoiada por todos os governos e nações,que lhe garanta o controle
exclusivo de armas ofensivas.
Albert Einstein
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O livro " Como Vejo a Ciência,a Religião e o Mundo " , de Albert Einstein,reúne diversos textos que,no seu conjunto,constituem
uma reflexão de Einstein sobre a própria vida,a ciência e os cientistas,a educação,a cultura,a política e a religião.
ALBERT EINSTEIN é um dos mais importantes cientistas do séc. XX. Nasceu em Ulm,no Império Alemão,a 14/3/1879 e faleceu em
Princeton,USA, em 18/4/1955, com 76 anos. Desenvolveu a Teoria da Relatividade Geral,um dos dois pilares da física moderna,ao
lado da Mecânica Quântica,e recebeu o prémio Nobel da Física de 1921,entre outros importantes galardões.
Vejamos alguns tópicos que Einstein aborda neste seu livro,editado em Portugal pela editora Relógio D´Água,em outubro de 2005 :
A - UMA LÍNGUA COMUM - o paraíso perdido
" No séc. XVII os cientistas e artistas de toda a Europa estavam ainda tão intimamente ligados por laços de idealismo comum,que a
sua cooperação quase não era influenciada pelos acontecimentos políticos. O uso comum da língua latina tornava ainda mais forte esta
comunidade. Hoje em dia olhamos retrospectivamente para essa situação como para um paraíso perdido. As paixões nacionais destruiram a comunidade e a língua latina,que outrora a todos unia,passou a ser uma língua morta. "
Vê-se,por esta transcrição, que Einstein defendia a existência de uma língua comum.Também é a minha opinião. Penso que devia haver uma língua falada por toda a humanidade. Não tenho nada contra as línguas nacionais e outras,que se podem manter. Mas deve haver uma língua falada por todos.Uma língua universal.Aliás,estou plenamente convicto que assim será no futuro,mas falta saber quando.Uma língua universal permitirá um melhor entendimento e confiança entre todos os humanos e será um factor importante para a manutenção da paz no mundo.
Que língua deve ser ? Alguma das que existem actualmente ou uma língua nova ? Isso não é o mais importante. O mais importante é que exista. Contudo,parece-me que,actualmente,a língua inglesa,por ser a mais internacional,está bem posicionada para conseguir ser a língua universal.Mas nada garante que o seja.Só o futuro dirá.
B - A RIQUEZA E OS FINS BANAIS
" Só o exemplo dos grandes e dos puros pode conduzir a concepções e feitos nobres. O dinheiro atrai o egoismo e arrasta consigo o desejo irresistível de lhe dar mau uso. Alguém poderá imaginar como teriam sido Moisés, Jesus ou Gandhi se tivessem a riqueza de Carnegie ?
Os fins banais do esforço humano : propriedade,êxito exterior e luxo, sempre me pareceram desprezíveis ."
O que dizer sobre esta citação de Einstein ?!
Desde sempre o homem tem procurado viver melhor. Com melhor qualidade de vida,com mais instrução e rodeado das mais recentes descobertas da técnica e da ciência. É normal que assim seja. O desejo de progredir faz parte das características humanas. Procurar atingir um determinado estádio de riquiza e bem estar,é legítimo e salutar. Contudo,chega uma altura em que outros objectivos se devem sobrepôr a esses,precisamente quando o patamar atingido já é elevado e garante todas as condições para uma vida feliz. Aí,os valores que passam a contar mais,são os da solidariedade,da bondade, e da entreajuda. O que quer dizer que deve haver um limite para a riqueza individual e devem existir organizações que controlem as grandes riquezas e impeçam que se ultrapassem os valores da razoabilidade humana. Citemos o exemplo recente do grupo de multimilionários que decidiram partilhar parte da sua riqueza : The Giving Pledge -- do qual fazem parte,
entre outros, Bill Gates, Warren Buffet, Mark Zuckerberg (do facebook), George Lucas (cineasta),etc.. Estas personalidades decidiram abdicar de parte da sua riqueza,em prol de causas sociais. É um exemplo a seguir,mas é insuficiente. Terão que ser organizações internacionais,com poder em todo o mundo,a controlar os excessos e a má utilização da riqueza acumulada. É tudo uma questão de mudança de mentalidade humana. Ter ambição na vida e enriquecer até certo ponto,é legítimo. Mas,continuar indefenidamente por esse caminho,conduz a resultados contrários ao interesse da humanidade no seu todo.
C - UMA CULTURA ÉTICA
" Sem cultura ética não há salvação para a humanidade. Não podemoa afirmar que os aspectos morais da vida humana em geral sejam hoje mais satisfatórios do que eram em 1876. A cultura deve ser uma das bases para o entendimento mundial. "
EINSTEIN em diversas passagens deste livro chama a atenção para a necesidade de uma cultura ética como forma de estimular e contribuir
para o desenvolvimento da humanidade. Mas,o que é uma cultura ética ? Uma cultura baseada nos valores da tradição greco-romana e
plasmada nas obras dos autores clássicos ? Ou uma cultura baseada nos princípios saídos da revolução francesa de 1789,tendo a liberdade,a igualdade e a fraternidade como bandeira ? Talvez ambas com mais algumas contribuições. Uma cultura ética será aquela que defende e ensina os melhores valores para o relacionamento humano. Não parece que estejamos a viver sob a influência de uma cultura ética. Ou então,a ética é outra e teremos que dizer que estamos perante uma nova ética provocada pela globalização e pela internet. Mas será uma nova ética ? ou o fim da ´tica ? A meu ver,nem é uma nova ética,nem o fim da ética. Não é uma nova ética porque os princípios éticos são bases e tradições clássicas cujos contornos se mantêm no tempo e vão buscar as suas raízes á natureza,ao racionalismo ético e ao iluminismo. E não é o fim da ética,porque outros tempos virão em que o estado actual da ética vai mudar e,de novo,a claridade será outra.
A ética irá recuperar o seu espaço,apesar dos ventos contrários que hoje sopram.
D - UM GOVERNO PARA O MUNDO
As coisas não se fazem de um dia para o outro. Pelo menos as que são mais complexas. É claro que o edifício já começou a ser construido
há bastante tempo. Os alicerces e algumas paredes estão de pé. Mas ainda falta muito trabalho e muito tempo até que esteja pronto e a funcionar em pleno. " Um governo para o mundo ",ou algo semelhante,é uma aspiração legítima e necessária face á cada vez mais complexa e exigente vida internacional. A globalização irá impôr que a construção do edifício do "governo do mundo" continue e que este funcione. Mas
existem desde há muito os alicerces,principalmente desde que foi criada a ONU- Organização das Nações Unidas-em 1945. A partir de então,
as estruturas internacionais não têm cessado de aumentar e as transferências de poderes e de soberania para organizações supra-nacionais
tem-se processado com regularidade.É um processo que irá continuar,embora haja sempre alguma oposição. A Assembleia Geral da ONU,o
Conselho de Segurança,o Conselho Económico e Social,o Tribunal Internacional de Justiça,as agências da ONU,como,por exemplo,a OMS-Organização Mundial de Saúde,o PAM-Programa Alimentar Mundial,a UNICEF,a Agência Internacional de Energia Atómica,a FAO-organização
da ONU para a Alimentação e a Agricultura,a UNESCO,o Banco Mundial,o FMI,etc,etc,tudo isso faz parte dos alicercer do edifício do "governo do mundo".E todas essas organizações continuarão a ser alteradas e reformuladas por forma a se adaptarem aos novos tempos.
É uma ideia que vem de longe.Já o filósofo grego Sócrates ,cerca de 500 anos antes de Jesus,dizia : " não sou ateniense nem grego,mas sim um cidadão do mundo ".
Albert Einstein também falou deste assunto nos seus escritos,na década de 1930,após a 1ª e antes da 2ª Guerra Mundial. Citemos algumas passagens : A - " no actual estado de desenvolvimento técnico,só uma organização supranacional dotada de um poder executivo suficientemente forte nos pode proteger " ; B - " A tecnologia logrou também encurtar as distâncias e criar novos e poderosíssimos meios de
destruição que,nas mãos de nações que reivindicam uma total liberdade de acção,se convertem em ameaças para a segurança e até para a própria sobrevivência da humanidade. Esta situação requer o estabelecimento de um poder judicial e executivo único para todo o planeta ; mas a criação de uma tal autoridade central debate-se com uma forte oposição por parte das nações tradicionais. Também aqui estamos a meio de uma luta cujo resultado decidirá o futuro de todos nós. " ; C - " A segurança das nações só poderá ser assegurada com base em instituições supranacionais e certas regras de conduta. Percebe-se que,a longo prazo,a destruição do mundo só pode ser evitada se fôr instituida uma federação mundial de nações". ; D - " Devemos criar um governo mundial capaz de resolver por via judicial os conflitos entre nações.Esse governo tem que se basear numa constituição bem defenida,apoiada por todos os governos e nações,que lhe garanta o controle
exclusivo de armas ofensivas " .
......... Estou de acordo com estas ideias. É para aqui que devemos avançar e ir mentalizando a pouco e pouco a população mundial que um
" governo do mundo " pode ser absolutamente necessário para a manutenção da paz e para o desenvolvimento armonioso do mundo. Os
valores e os princípios que o devem nortear,são os melhores da história humana : solidareidade,fraternidade,justiça social,humanismo,tolerância e uma vida digna para a generalidade da população mundial,por forma a que a humanidade seja vista,não como uma raça egoista,belicista e destruidora,mas antes,como uma raça fraterna e de entreajuda.
Einstein aborda outros temas . Sobre RELIGIÃO diz que " a minha concepção de Deus pode ser representada pela crença firme,ligada a
um sentimento profundo,numa mente superior que se revela no mundo da experiência. Em linguagem corrente,isto pode ser descrito
como panteísmo ( Espinosa ) e fala da "religiosidade cósmica",na qual "o indivíduo sente a insignificância das aspirações humanas e dos
seus objectivos e a sublimidade da ordem admirável que se manifesta na natureza e no mundo das ideias". Os génios religiosos de todos
os tempos,distinguiram-se por essa religiosidade cósmica,referindo os nomes de Demócrito,Francisco de Assis e Espinosa.
Diz que o " sentimento do mistério " é o que há de mais belo na nossa vida.e que " os mais elevados princípios para os nossos juízos e
aspirações são nos dados pela tradição judaico-cristã. Define a CIÊNCIA como " esse centenário esforço para congregar através de
um pensamento sistemático os fenómenos perceptíveis deste mundo numa associação tão perfeita quanto possível". A ciência pode
apenas indagar aquilo que " é ",mas não o que " devia ser ",e fora do seu domínio permanece toda a esfera dos juízos de valor,cuja
necessidade ninguém discute.
Afirma que a LIBERDADE " proporcionou-nos todos os progressos do conhecimento e da invenção,e sem a qual a vida,para um homem
que se respeite,não merece ser vivida." Sem essa liberdade não teriam existido Shakespeare,nem Goethe,nem Newton,nem Faraday,
nem Pasteur ou Lister.
E conclui que " o caminho que conduz a uma existência alegre e feliz passa sempre por privações e restrições individuais ".
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ALBERT EINSTEIN : o homem que está por detrás do cientísta. !
Como seria de esperar,um grande homem !