NOTA 64 - O PROCESSO - de Franz Kafka

Alguém devia ter difamado Joseph K.,pois,certa manhã,sem que tivesse feito qualquer mal,foi preso. No dia em
que fazia trinta anos.
-- O senhor está preso,é certo,mas isso não o deve impedir de trabalhar.Não deve também ser impedido de levar
a sua vida normal. -- disse o inspector.
                                                                             (   O Processo,33,48.  )
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FRANZ  KAFKA nasceu em 1883,em Praga,de uma família pertencente á pequena burguesia judía de expressão alemã.
Frequentou o liceu alemão e posteriormente a Universidade Alemã de Praga,onde terminou os estudos jurídicos,obtendo
o título de Doutor em Direito em 1906. Começou a escrever os primeiros textos em 1907,enquanto trabalhava como assessor
jurídico numa companhia de seguros. É autor dos três romances fragmentários ( com capítulos completos e outros por completar
e que podem ser facilmente deslocáveis dentro de uma estrutura circular ) , "O Processo" (1925),"O Castelo" (1926),e "América"
(1927) e ainda as novelas "A Sentença" e "A Metamorfose",ambas de 1912,entre outros textos. Faleceu de tuberculose,a 3 de
junho de 1924,perto de Viena.
" O Processo " constituiu para Kafka a forma ideal para expressar a fragmentação do mundo e da realidade em que vive o homem 
moderno e representa um marco na história do romance moderno.(contra-capa,desta edição da Assírio & Alvim,de 6/2001)
O romance conta a história de Joseph K.,bancário que é processado sem saber o motivo. A figura de Joseph K. é o paradigma
do perseguido que desconhece as causas reais da sua perseguição. Embora Kafka tenha retratado um autoritarismo da Justiça
que se vê com o poder nas mãos para condenar alguém,sem lhe oferecer meios de defesa,ou ao menos conhecimento das
razões da punição, "O Processo" fornece farto material áquele que se debruça sobre o estudo para além da mera dogmática
jurídica,visto que,por meio de um conto,que mais se assemelha a uma parábola,Kafka reproduz a negação do estado
democrático de direito.
Em "O Processo",o protagonista,atónito,ao ser informado que contra ele havia um processo judicial ( ao qual ele jamais terá acesso
e fundado numa acusação que ele jamais conhecerá ), percorre as vielas e becos da burocracia estatal,cumpre ritos inexplicáveis,
comparece a tribunais estapafúrdios,submete-se a ordens desconexas e vê-se de tal modo enredado numa situação ilógica,
que a narrativa aproxima-se ( e muito ) da descrição de confusos pesadelos. A "culpa" ,descobre Joseph K.,torna-se-lhe inerente,
sem que ele possa fazer algo contra isso. Obstinadamente,mas sem sucesso,ele tenta lutar contra o crescente absurdo e
envolvimento,ignora todos os avisos de resistência e é por fim executado um ano depois nos portões da cidade.(wikipedia/o processo)
Em 1962,"O Processo" foi adaptado ao cinema,como "The Trial",do director Orson Welles,com Anthony Perkins,no papel de Joseph K..
Assim,Franz Kafka,de origem judaica,escreveu "O Processo" para denunciar um sistema judicial corrupto e totalitário,no qual o
arbítrio e a prepotência não permitiam uma defesa séria dos acudados. O protagonista-- Joseph K.--,gerente bancário,vê-se
acusado,sem saber porquê e sem conhecer o processo. Um processo penal,complicado e grave. Através do seu tio Karl,que tinha
sido seu tutor,contrata um advogado-- o Dr. Huld -- que tinha sido colega de escola do tio Karl,para o defender. O Dr. Huld era
conhecido por ser um "advogado dos pobres",mas tinha um grande escritório,com uma "imponente secretária". Joseph K. visita
o advogado,com o tio,mas não presta atenção ao seu caso e destrai-se com a enfermeira do Dr. Huld - a Leni - . A defesa não
avança. O advogado Huld não chega a fazer nenhum requerimento para o processo e Joseph K. acaba por lhe retirar a representação,
mais a mais,depois de ter conhecido um outro cliente do Dr. Huld - o comerciante Block - ,representado pelo advogado há mais de
20 anos,mas que tinha mais 5 advogados clandestinos,o que quer dizer que não estava muito satisfeito com o trabalho do Dr. Huld.
Joseph K. decide encarregar-se da sua própria defesa e pensa elaborar alegações escritas para juntar ao processo.Entretanto,
conhece no banco,um industrial que sabia do seu processo e que lhe passou uma carta de recomendação para que Joseph K.
contactasse quem lhe falara no processo - o pintor de arte Titorelli . Joseph K. assim faz,e visita Titorelli,que se mostra conhecedor
dos meandros do tribunal. Aliás,diz Titoreli " sou homem de confiança do tribunal ". Sózinho,consigo safá-lo - diz o pintor, que
trabalhava para o tribunal,pintando quadros de juízes e,naquela data,estava a pintar " A Justiça ". Já o pai de Titorelli tinha sido pintor 
ao serviço do tribunal. Joseph K. diz a Titorelli que está inocente e Titorelli responde-lhe que há 3 tipos de soltura : a absolvição
efectiva ; a absolvição aparente e a dilação.Mas também lhe diz que a sua influência é só no tribunal da 1ª instância e não nos
tribunais superiores. Joseph K. acaba por comprar alguns quadros ao pintor Titorelli e este ordena a um oficial de deligências
que acompanhe Joseph K. com os quadros. Mas as coisas não avançam.Joseph K. continua sem saber nada de concreto quanto
ao processo e não chega a fazer nenhum requerimento,nem elabora alegações escritas. 
Dado dia,recebe no banco onde é gerente,o correspondente italiano do banco,que lhe pede que o acompanhe numa visita á
Catedral,marcando uma hora para o encontro. Joseph K. vai á Catedral,mas não encontra o italiano. Quem fala com ele é o padre da
Catedral que era capelão da prisão e tinha conhecimento do processo,e que lhe diz: " tu és considerado culpado...a tua culpa é
considerada provada ".
Finalmente,na véspera do seu 31º aniversário,pelas nove horas da noite,dois homens foram buscar Joseph K. a casa. Percorreram
várias ruas e,já fora da cidade,perto de uma pequena pedreira abandonada e erma,um dos carrascos abriu a sua sobrecasaca e,
da bainha que pendia de um cinto colocado á volta do colete,tirou uma faca de açougueiro,comprida,fina e de dois gumes. Joseph K.
acabou por ser morto " como um cão ", com a faca espetada no coração.
....................................................................................... " O Processo " de Franz Kafka pretende ser a denúncia do arbitrío e
do totalitarismo e é mais um exemplo da batalha intemporal que o homem trava pela dignidade e pela justiça.