NOTA 133 - O MITO DAS NAÇÕES - de Patrick J. Geary

1 - A verdadeira essência da história humana é a mudança.
2 - Os povos da Europa,como os povos da África,da América ou da Ásia,são processos,
formados e reformados pela história,e não estruturas atómicas da história em si.
3 - Nenhum esforço pode garantir que nações,grupos étnicos e comunidades hoje existentes
não desapareçam por completo no futuro.
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O livro "O Mito das Nações" escrito pelo historiador americano Patrick J. Geary,professor de História na
Universadade da Califórnia,em Los Angeles,USA,foi editado originalmente no ano de 2002 e tem esta edição
portuguesa de Setembro de 2008. É um livro destinado "a não académicos com curiosidade pela relação entre o
passado e a actualidade" e analiza um longo período histórico,com maior incidência na Idade Média (sécs.IV ao IX),
mas indo também até aos povos da antiguidade do séc.V a.C.. Assim,discorre sobre os Gregos,os Persas,os Jónios,
depois o "povo de Deus",o Império Romano e os Romanos,e após estes,os povos "bárbaros" - os Godos,os Vândalos,
os Suevos,os Alanos,os Visigodos,e também os Hunus,os Francos e outros povos que surgiram mais tarde,como os
Lombardos,os Saxões,os Ávalos,os Eslavos,os Croatas,os Sérvios,entre outros.
"Mito das Nações" porquê ? Bem,a ideia chave do autor parece ser a de que os povos e as nações sempre foram
realidades variáveis e "muito mais mutáveis,complexos e dinâmicos" do que por vezes se defende,e assentam mais
em comunidades de indivíduos que vivem de acordo com uma mesma lei do que nas componentes que tradicionalmente
definem uma nação - a língua,o território e uma cultura própria num passado remoto. Assim,enquanto os nacionalistas
defendem que "os povos europeus são unidades sociais e culturais distintas,estáveis e objectivamente identificáveis",
o que é certo é que na história da Europa os movimentos populacionais sempre foram mais a regra do que a excepção
e a população da Europa actual é o resultado dessas ondas migratórias. Por isso,a história dos povos da Europa
não terminou.Encontra-se - e estará,necessariamente,sempre - em evolução.
O autor fala do "veneno do nacionalismo étnico" e diz que as exigências de autonomia política baseadas em
identidades étnicas,provocará inevitavelmente conflitos fronteiriços. Assim,há que "olhar com apreensão e desdém"
para o desenvolvimento destas ideias nacionalistas e racistas,sendo a origem do nacionalismno étnico um produto
dos sécs. XVIII e XIX.
Diz Patrick Geary que ,ao longo da sua história,a pertença ao "populus romanus" era uma questão do Direito
Constitucional,não do Direito Natural,e,desta maneira,teoricamente acessível a todos.
E os povos " bárbaros" ( bárbaro,designava originalmente,pessoa que diz coisas sem sentido) tinham regimes
constitucionais como os romanos,que uniam grupos de origens culturais,linguísticas e geográficas diferentes sob
a lidarança de famílias guerreiras aristocráticas. Afirma P. Geary que "os Alamanos,os Godos,os Hunus,os Francos
e outros,consistiam em grupos que falavam uma variedade de línguas diferentes,tinham costumes diferentes e se
identificavam a si próprios com tradições diferentes. Por exemplo,os Godos,embora fossem "bárbaros" pertenciam
ao mesmo mundo que os Romanos,"tinham guerreiros valorosos e já cultivavam a filosofia e a teologia antes de
entrarem na órbita romana". Por isso,no séc.VI,o povo romano era visto,como qualitativamente igual à "gens"
bárbara (Jordanes).
Depois de desenvolver uma análise pormenorizada a alguns dos povos referidos anteriormente - Patrick Geary é
especializado no estudo da Idade Média - o autor chega às conclusões com que abre este breve comentário,e 
termina o seu livro dizendo que " Os rios em que consistem os povos continuam a fluir,mas as águas do passado
não são as do presente nem as do futuro.Os europeus têm de reconhecer a diferença entre o passado e o
presente se quiserem construir um futuro".
...............................................................  "O Mito das Nações" de Patrick J. Geary - uma abordagem lúcida e 
documentada sobre as implicações dos abusos nacionais e para evitar que o nacionalismo seja
o " último refúgio dos canalhas " -como dizia o ilustre Dr. Samuel Johnson.