NOTA 122 - O FIM DO PODER - de Moisés Naím
1 - "Nesta época de mudança revolucionária,em que quase tudo o que fazemos ou experienciamos nas nossas
vidas quotidianas foi afectado,há uma área que continua surpreendentemente imune : a forma como nos governamos,
como governamos as nossas comunidades,as nossas nações e o sistema internacional." Mas,
2 - Está a formar-se uma onda que promete "mudar o mundo tanto quanto o fizeram as revoluções tecnológicas das
duas últimas décadas. Não será uma mudança do topo até á base,não será ordeira nem rápida,produto de cimeiras
ou de reuniões,mas antes turbulenta,dispersa e aos solavancos. Mas é inevitável. Impulsionada pela transformação
na aquisição,utilização e conservação do poder,a humanidade tem de encontrar,e encontrará,novas formas de se governar."
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Moisés Naím não aponta o caminho a seguir. Mas também não era esse o objectivo do livro. Diz que a humanidade
tem de encontrar novas formas de se governar,mas não avança com a caracterização dessas novas formas.
Refere,contudo,que os partidos políticos,sendo mais competitivos,são a melhor maneira para criar e canalizar
a energia política latente em todas as sociedades,para produzir as mudanças desejáveis,evitando as revoluções,
cujos resultados são demasiado incertos e o progresso não é a sua consequência garantida.
" O Fim Do Poder ",de Moisés Naím,foi publicado em 2013 - e foi considerado pelo Financial Times,Livro do Ano 2013 -
e tem esta 1ª edição portuguesa de fevereiro de 2014. O livro analiza as alterações no exercício do poder,a todos
os níveis:no mundo empresarial e financeiro,no governo das nações,nas religiões,na educação,nas famílias,etc.
O poder está a mudar,não há dúvida.O autor fala em "fim do poder",mas o que quer dizer é que o poder,no futuro,
será exercido de maneira diversa.Não será o fim do poder.Será outro poder.Será o fim do poder que existe hoje.
Mas outro poder virá.
Naím escreve umas palavras de destaque para a Revolução dos Cravos,em Portugal : " Naquela que ficou conhecida
como a Revolução dos Cravos,os soldados que invadiram as ruas de Lisboa,em Portugal,enfiaram flores nos canos das
suas armas para tranquilizarem a população sobre as suas intenções pacíficas. E os oficiais que derrubaram o
regime ditatorial do Estado Novo,em 25 de Abril de 1974,mostraram-se fiéis á sua palavra. Depois de terem acabado
com quase meio século de governação repressiva,realizaram eleições no ano seguinte,que deram a Portugal a
democracia de que hoje continua a desfrutar.(...)
A Revolução dos Cravos deu início àquilo a que Samuel Huntington chamou Terceira Vaga de democratização.
A primeira ocorrera no séc.XIX,com a expansão do sufrágio e o aparecimento de democracias modernas nos Estados
Unidos e na Europa Ocidental,que sofreram reveses nas vésperas da 2ª Guerra Mundial com a ascensão das
ideologias totalitárias. A Segunda tivera lugar após a 2ª Guerra Mundial,com a restauração da democracia na
Europa,mas com vida curta,(...).A Terceira Vaga tem sido duradoura e de grande alcance.O número de democracias
existentes no mundo não tem precedentes.
O meu objectivo é delinear o impacto da decadência do poder - diz Moisés Naím. E,mais á frente,quando fala do
aquecimento global,do esgotamento dos recursoa,da proliferação nuclerar,do tráfico de droga,do fundamentalismo
religioso,etc.,afirma que " parece não haver ninguém no comando ",sensação que irá persistir.
Fala da riqueza.E o que diz ? Afirma que a riqueza se está a concentrar e que esta tendência é alarmante e
inaceitável,pois são cada vez maiores as disparidades de rendimento e riqueza em todo o mundo. Os " 99 por cento
sentem-se enganados,empobrecidos,explorados,pelos 1 por cento ricos e poderosos."
O nosso tempo é definido por 3 transformações revolucionárias : 1- a revolução do MAIS - há mais de tudo,desde o
número de países,á população,aos níveis de vida,às taxas de literacia,á quantidade de produtos no mercado;
2 - a revolução da "Mobilidade" - tudo se movimenta no planeta de forma nunca antes vista:pessoas,bens,dinheiro,
ideias ; 3 - a revolução da "mentalidade" - que acompanha as transformações referidas em 1 e 2 .
A Democracia tem-se implantado no mundo.Segundo algumas fontes - v.g. a Freedom House - em 2011,contavam-se
117 democracias eleitorais entre os 193 países analisados.
O Fim do Poder. Mas o que é o Poder ? O autor dá uma definição prática : " o poder é a capacidade de orientar ou de
prevenir as acções presentes ou futuras de outros grupos e indivíduos. Ou,dito de outra forma,o poder é aquilo que
exercemos sobre os outros,levando-os a comportar-se de uma maneira que,de outro modo,não se comportariam.
Apesar das crises financeiras e políticas não foi travado o processo da integração económica internacional e o
comércio e o investimento internacional continuam a aumentar. Mas "entrámos numa era pós-hegemónica" e não
haverá no século XXI "um guardião global".
Crítica dos extremos ? Sem dúvida! : " As promessas e pressupostos da "revolução boliviana" inspiradas por
Hugo Chávez ou,no extremo oposto,as do Tea Party americano,enraízam-se também em simplificações terríveis
imunes às lições da experiência,aos dados e ás provas científicas."
A grande ascensão das pequenas forças-os agentes do micro-poder;os bombistas suicidas-a cultura do martírio;
o poder suave,a revolução tecnológica actual,filantropia e ajuda humanitária,os riscos da decadência do poder,
o pensamento do elevador;4 gerações de guerra;a política,que por vezes é "a arte do nada";o poder judicial
e; Max Weber,o "pai da ciência social moderna",são alguns dos muitos tópicos abordados neste excelente livro,
pelo autor venezuelano Miosés Naím,ex-ministro da Indústria e do Comércio da Venezuela,doutorado pelo
MIT-Massachusetts Institut of Technology,durante mais de uma década editor-chefe da conceituada revista
Foreign Policy, e ex-director executivo do Banco Mundial.