NOTA 120 - O MÉDIO ORIENTE E O OCIDENTE : O que correu mal ? - de Bernard Lewis

1 - Durante a maior parte da Idade Média,não foram as culturas mais antigas do Extremo Oriente,nem as culturas
mais recentes do Ocidente,que constituiram os maiores centros de progresso e civilização,mas sim o Mundo Islâmico,
situado entre ambos.
2 - O que correu mal para que,depois de séculos em que haviam sido ricos e fortes,verem-se agora fracos e pobres,
tendo-lhes escapado a posição de liderança global,que encaravam como sendo sua de direito,e vendo-se reduzidos
a meros imitadores do Ocidente ?
3 - Se os Muçulmanos souberem pôr de lado as queixas e a autocomiseração obsessivas,se se esforçarem por
solucionar os seus diferendos internos e se forem capazes de polarizar os respectivos talentos,podem,mais uma vez,
fazer do Médio Oriente,como na Antiguidade e na Idade Média,um ponto importante em termos civilizacionais.
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Para quem quiser ter uma melhor compreensão do conflito que existe entre o mundo islâmico e o mundo cristão,a
leitura do livro " O Médio Oriente e o Ocidente - O que Correu mal ? ",escrito por Bernard Lewis,é uma boa aposta.
Porque é que existe o actual confronto religioso entre o Islão e o Cristianismo ? Porque é que com outras religiões,
tal confronto não existe ? Porque não há tolerância e o fundamentalismo islâmico se tem desenvolvido ?
Vejamos !  Não é de agora este conflito.É já uma longa luta,que se desenrola desde o advento do Islão,no século VII,
com a " irupção de exércitos muçulmanos da Arábia pelas terras até então cristãs da Síria,Palestina,Egipto,Norte de
África e,por algum tempo,do Sul da Europa."
Para os Muçulnanos - diz Bernard Lewis - o cristianismo e o judaísmo eram os percursores do Islão,com livros 
sagrados,resultado de revelações autênticas,mas imcompletas e corrompidas por guardiões indignos. Por essa razão,
tinham sido ultrapassados pela revelação definitiva e perfeita sob a forma do Islão.O que havia de verdadeiro no
cristianismo tinha sido incorporado no Islão.O que não havia sido adoptado era necessariamente falso."
E o que é certo é que - continua B.L. - o Islão,durante séculos,representou a maior potência militar á face da Terra,
sendo também a potência economicamente mais avançada do mundo e alcançara o mais alto nível de desenvolvimento
da história humana no que dizia respeito às artes e ciências que caracterizam a civilização.Na maioria das artes e 
ciências nucleares da civilização,a Europa medieval foi aprendiza e,em certo sentido,discípula do mundo islâmico.
Contudo,subitamente,as relações entre o Ocidente e o mundo árabe mudaram. O Renascimento,a Reforma e a
Revolução Industrial passaram praticamente despercebidos nas terras do Islão,tendo crescido aí a tendência para
desprezar os povos da Europa Ocidental,vistos como infiéis e bárbaros obscuros. Ou seja,no mundo islâmico,
aumentou a intolerância,começou a desdenhar-se dos povos do Ocidente,assim como dos do Oriente,e,com essa
postura,o Ocidente passou a desenvolver-se mais rapidamente,e os mestres passaram a discípulos.O confronto entre o   
islão otomano e o cristianismo europeu tem sido com frequência comparado á Guerra Fria,da segunda metade do 
século XX. Por volta de 1920 parecia evidente que o triunfo da Europa sobre o mundo islâmico era completo.  
Mas era uma vitória ilusória e foi de curta duração porque " os impérios da Europa ocidental,pela própria natureza
da cultura,instituições e línguas que trouxeram consigo e impuseram aos seus súbditos coloniais,provaram a
incompatibilidade fundamental entre democracia e império ...."
Bernard Lewis chama a atenção para o contraste existente entre os " mitos fundadores " do Islão,do Cristianismo
e do Judaísmo : a ) - " Os Filhos de Israel escaparam á servidão e erraram durante 40 anos no deserto antes de
lhes ser permitido entrar na Terra Prometida.O respectivo líder,Moisés,apenas a pôde avistar ao longe,não 
lhe sendo permitido pisar o seu solo; b ) - Jesus foi humilhado e crucificado,os seus seguidores foram perseguidos
e marterizados durante séculos,até eventualmente converterem um soberano,adaptando então o respectivo Estado,
língua e instituições aos seus propósitos - a conversão de Constantino no início do século IV e o estabelecimento
do cristianismo como religião de estado iniciou uma dupla mudança:a cristianização de Roma e,para alguns,a
romanização de Cristo.; c ) -  Maomé alcançou a vitória,triunfou em vida.Conquistou a sua Terra Prometida e
criou o seu Estado,no qual ele próprio assumiu o papel de Supremo Soberano.Como tal,promulgou leis,dispensou
justiça,cobrou impostos,alistou exércitos,conduziu campanhas militares e firmou a paz.Numa palavra,governou,e
a história das suas decisões e acções como governante foram santificadas como parte da escritura islâmica e
amplificadas pelas tradições muçulmanas." No último século ocorreram reformas laicizantes nos governos 
da " Sublime Porta " .Mas,actualmente,há um conjunto de movimentos islâmicos militantes e radicais
 - os fundamentalistas islâmicos - que partilham o objectivo de desfazer  essas reformas,abolir os códigos
legais importados e banir os comportamentos sociais que os acompanham,forçando o regresso à Sagrada Lei
Islâmica e a uma ordem política islâmica. O inimigo por excelência para a maioria dos fundamentalistas é
Kemal Ataturk,o fundador da República da Turquia e o primeiro grande reformador laicista do mundo islâmico.
Mas,personalidades tão diversas como,no Egipto,o rei Faruq e os presidentes Nasser ou Sadat; na Síria,Hafiz
al-Asad;no Iraque,Saddam Hussein;ou o Xá da Pérsia e os reis e soberanos da península arábica,foram denunciados
como perigosos inimigos do Islão,inimigos internos.
É por isso que Bernard Lewis chega á conclusão,que pode ser lida a págs 187 e que já citei lá em cima : "... Se os
Muçulmanos se esforçarem por solucionar os seus diferendos internos e se forem capazes de polarizar os respectivos
talentos,podem,mais uma vez,fazer do Médio Oriente,como na Antiguidade e na Idade Média,um ponto importante
em termos civilizacionais. Por enquanto,esta ainda é uma escolha que está nas suas mãos."