NOTA 102 - O PARADOXO DO PODER AMERICANO - de Joseph S. Nye,Jr.

 " Na minha opinião,se os Estados Unidos desejam permanecer fortes,os americanos têm de prestar atenção ao
nosso poder suave. O que é que eu quero significar exactamente com PODER SUAVE ?
O poder militar e o poder económico são ambos exemplos de PODER DURO de comando,susceptível de ser utilizado
para induzir outros a alterarem a sua atitude.(...) Mas existe igualmente um método indirecto de exercer o poder. Um país
pode obter os resultados que deseja na política mundial porque outros países escolhem segui-lo,admirando os seus valores,
imitando os seus exemplos,aspirando ao seu nível de prosperidade e abertura.(...) A este aspecto do poder - levar outros a
desejarem o que nós próprios desejamos - chamo PODER SUAVE . Coopta os indivíduos em vez de os coagir. "
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Magnífico livro este " O Paradoxo do Poder Americano " do Professor Joseph S. Ney,Jr. .Fez-me lembrar o livro " O Mundo
Pós-Americano " de Fareed Zakaria,embora a temática seja algo diferente.
O Prof. Joseph Nye divide o seu livro em 5 capítulos : 1 - O Colosso americano ; 2 - A Revolução da informação ; 3 - A Globalização ;
4 - A Frente interna ; 5 - A Redefinição do interesse nacional .
Começa por afirmar,logo no prólogo,que nem todos são atraídos por alguns aspectos da cultura amaricana e que " o feminismo,
a sexualidade aberta e as escolhas individuais americanas são profundamente subversivas das sociedades patriarcais."  Diz
que os Estados Unidos têm sido lideres da " terceira revolução industrial " ,ou seja, a revolução global da informação e define
PODER como " a posse de quantidades relativamente elevadas de elementos como população,território,recursos naturais,poder
económico,força militar e estabelidade política " e fala em 3 tipos de PAÍSES : 1 - estados pobres,fracos e pré-industriais ;
2 - países industrializados em processo de modernização,como a Índia ou a China ; 3 - as sociedades industriais que predominam
na Europa,na América do Norte e no Japão. Refere-se á ausência de uma ética guerreira nas democracias modernas,o que implica
que o uso da força necessite de uma justificação moral profunda para ter apoio popular e diz que o impacto da supremacia
americana é amortecido quando incorporado numa rede de instituições multilaterais. Fala do " ressurgimento " da CHINA , que
foi líder mundial,embora sem abrangência global, de 500 a 1.500 ,e que apenas foi ultrapassada pela Europa e pela América no
último meio milénio. Diz que o JAPÃO possui a segunda maior economia nacional do mundo e que a RÚSSIA é o único país com
suficientes mísseis e ogivas nucleares que podem pôr em perigo os Estados Unidos, e que possui uma dimensão gigantesca,
uma população instruida,cientistas e engenheiros qualificados e vastos recursos naturais,mas que " mesmo um crescimento de 5%
não elevará os rendimentos russos ao nível dos de Espanha e de PORTUGAL durante décadas." Sobre a ÌNDIA,refere que a sua
população de mil milhões de pessoas é 4 vezes a dos Estados Unidos e que a ÍNDIA possui uma classe média emergente de
várias centenas de milhões de pessoas e o inglês é a língua oficial falada por 50 a 100 milhões,mas que continua a ser um país 
bastante subdesenvolvido,com centenas de milhões de cidadãos analfabetos vivendo na pobreza. Assim, a UNIÁO EUROPEIA
( UE ) é o que existe de mais parecido com os Estados Unidos. A economia da UE é aproximadamente igual á dos Estados Unidos,
a sua população consideravelmente maior,assim como a sua quota mundial de exportações.
Mas,estará a sociedade americana a caminhar para a DECADÊNCIA devido á " subversão da sociedade patriarcal " , ao consumo
de drogas,abuso de medicamentos e de alcool,comportamentos sociais anómalos,criminalidade organizada,disparidade de rendimentos 
e riqueza,etc., indo na mesma direcção do Império Romano que acabou por cair " por dentro " e não devido ás invasões dos bárbaros ?
O autor diz que não. " Embora os Estados Unidos tenham problemas sociais - e sempre os tenham tido - não parecem estar a 
encaminhar-se rapidamente para o abismo ". Contudo,nem todos pensam assim. A historiadora Gertrude Himmelfarb,diz que os
Estados Unidos estão actualmente a confrontar-se com " o colapso dos princípios e dos costumes éticos, a perda de respeito pelas
autoridades e pelas instituições,a ruptura da família,o declínio da civilidade,a vulgarização da alta cultura e a degradação da
cultura popular ."  Quem tem razão ?  O futuro dirá ! ...
Cita Adam Smith para dizer que " a descoberta da América e a de uma passagem para as índias orientais pelo Cabo da Boa
Esperança,são os dois maiores e mais importantes acontecimentos registados na história da humanidade... ao teram unido,de
alguma forma,as mais distantes partes do mundo". Diz que a CULTURA americana está a tornar-se a " segunda " cultura de toda a
gente e que,apesar da vulgaridade,do sexo,e da violência " os nossos filmes e música exaltam ícones de liberdade,celebrando
uma sociedade favorável á mobilidade ascencional..."
Afirma que a SOBERANIA ( "um termo escorregadio" )  estatal está a mudar. O estado continua a ser soberano,mas os seus poderes,
mesmo para os Estados Unidos,não são o que foram no passado(...) . A INTERNET está a criar um novo domínio transnacional
que se sobrepõe aos estados soberanos da mesma forma que os recém-criados mercados medievais há uns séculos atrás, e há
quem fale de uma " sociedade global dos ligados ". Mas,apesar da internet ,o que os PAÍSES POBRES mais precisam é de educação
e de infra-estruturas básicas.
Embora o ENSINO americano seja forte no topo ( ensino universitário ), é menos digno de admiração nos níveis inferiores
( secundário e básico ) e que meio milhão de estudantes estrangeiros querem estudar nos Estados Unidos todos os anos.
O ESTADO-PROVIDÊNCIA colocou uma rede de segurança por baixo das pessoas mais pobres na maioria dos países desenvolvidos,
que actuou como uma válvula de segurança que tornou as economias abertas e a globalização económica mais aceitável. Alguns
defendem que o desenvolvimento de uma economia mundial tornará necessária a existência de um poder federal a nível global.
Contudo,para o Prof. Joseph Nye,um " governo do mundo " não é solução,pelo menos por agora. A instituição fundamental de
governação mundial continuará a ser o estado-nação. A falta de um " sentimento de comunidade a nível global " faz com que não
seja praticável nem justa a existência de tal governo ou de um " Parlamento do Homem ".  Porém ,o Prof. Nye não é "unilateralista",
nem "soberanista". Apoia o MULTILATERALISMO e diz que os Estados Unidos terão de incluir " a governação e as instituições
multilaterais numa concepção mais alargada dos nossos interesses nacionais ".
O PODER SUÁVE está a tornar-se mais importante do que o poder coerctivo do passado e a GLOBALIZAÇÃO ( a expansão das
redes de interdependência mundiais ) ainda tem um longo caminho pela frente. Reconhece que,a longo prazo,seja reduzida a
extensão do domínio americano e chama a atenção para o facto de que a "Homogeneização" cultural não acompanha 
necessariamente a globalização. O JAPÃO está a manter a singularidade da sua cultura.
Afirma que a PAC ( política agrícola comum europeia ) prejudica os países pobres e refere-se á " distribuição desigual dos
benefícios da globalização".Por exemplo,a maioria das pessoas do mundo não possui telefone...Assim,é necessária uma maior
ajuda ao desenvolvimento internacional.
O INGLÊS representa 80 % do total das páginas da internet e é falado por cerca de 5 % da população mundial;mas,actualmente,
o número de utilizadores chineses da internet deve ultrapassar o dos americanos.
Conclusão ! Os Estados Unidos,não podem ser apenas a " cidade no topo da colina " ou o " 112 do mundo " . Necessitam de
FALAR SUAVEMENTE , ouvir com mais atenção e procurar trabalhar com outras nações nos problemas globais de um mundo
multilateral.
............................................................................................... " O Paradoxo do Poder Americano " de  Joseph Nye ,Jr.
Podemos não concordar com tudo o que o Prof. Nye aqui diz.Mas,lá que é uma análise plena de bom senso,construtiva e
lúcida,sobre o papel  a desempenhar pelos Estados Unidos num mundo cada vez mais globalizado e interdependente,disso
não pode haver dúvida.